domingo, 21 de dezembro de 2014

Vale do Aço ANTES E DEPOIS, de Mário de Carvalho Neto e Elvira Nascimento.


foto disponível em: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=743944399019793&set=a.111846215562951.20251.100002127187508&type=1&theater 
                                                                     

Impossível seria passar despercebido.  O fenômeno cidade, que  já nos acompanha enquanto objeto de estudo e de atuação profissional,    concentra paradigmas percebidos não somente por nós arquitetos, urbanistas, engenheiros,  geógrafos,  historiadores e demais profissionais que atuam sobre a problemática urbana:   sua imagem  na paisagem.
Recentemente lançado, o documentário fotográfico “Vale do Aço antes e depois”, de Mário de Carvalho Neto e Elvira Nascimento, presencia  a trajetória histórica e evolução urbanística da Região Metropolitana do Vale do Aço,  pelas cidades de  Coronel Fabriciano, Ipatinga, Timóteo e Santana do Paraíso,   em  seu principal  loccus enquanto  manifestação  humana: a paisagem.
Considera-se paisagem a imagem resultante da síntese de todos os elementos presentes em determinado local. Outra definição, tradicional, de paisagem é a de um espaço territorial abrangido pelo olhar. Pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. É formada não apenas por volumes, mas também por cores, movimento, odores, sons etc. [1]
As paisagens culturais – também chamadas de paisagens antrópicas – são as expressões das atividades humanas. Elas constroem-se a partir da utilização e transformação dos elementos da natureza pelas atividades realizadas pelo homem. Portanto, todas as edificações artificialmente construídas, bem como as intervenções não naturais sobre o espaço constituem paisagens culturais, como o espaço de uma cidade ou um campo de produção agrícola.[2] A Paisagem Cultural Brasileira é uma porção peculiar do território nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores.[3]
            0 conceito de paisagem cultural, embora  existente há muito tempo no campo da geografia passou a ser examinado com mais atenção no campo patrimonial nas últimas décadas do século XX, exatamente pelo seu potencial de associar meio-ambiente e cultura, além de incorporar com mais acuidade as discussões sobre a dinâmica de transformações causadas pelo homem aos seus próprios assentamentos . O exame deste conceito e suas formas de aplicação á realidade, desdobram estudos em colóquios e seminários vêm sendo empreendidos no Brasil há mais de 3 anos, demonstrando o compromisso das instituições de preservação com a vanguarda dos instrumentos de proteção ao patrimônio, entre eles, o Seminário Paisagem Cultural como Patrimônio, realizado em 27 de outubro de 2014, Iepha, Minas Gerais e  o  2º Colóquio Ibero Americano Paisagem Cultural: desafios e perspectivas, realizado em Belo Horizonte, de 19 a 21 de novembro de 2014.
            O fato é que a ideia de “paisagem cultural” tem aberto novas possibilidades para a área do patrimônio, combinando aspectos materiais e imateriais do conceito, muitas vezes pensados separadamente, indicando as interações significativas entre o homem e o meio ambiente natural. Com isso, recoloca-se o próprio campo do patrimônio cultural, abrindo-se uma perspectiva contemporânea para, ao lado das novas contribuições se pensar também de forma mais integrada diversas ideias tradicionais do campo da preservação.[4]
Destaca- se portanto, a contribuição da publicação, em especial para a  exposição de uma dimensão da idéia da paisagem cultural,  por  sua natureza conceitual. A publicação é, indubitavelmente, uma investigação sobre a idéia de paisagem cultural, novo marco teórico que articula de forma inextricável os aspectos materiais e imateriais do conceito de patrimônio, muitas vezes pensados separadamente, indicando as interações significativas entre o homem e o meio-ambiente natural.
As instituições de controle e de gestão urbanas, órgãos públicos ligados ao tema, demonstram, pelas imagens publicadas no livro, deficiências na gestão das cidades e a carência de subsídios, levantamentos técnicos e pesquisas voltadas para abordagens desta natureza,  que possam melhorar  suas atuações  no sentido da promoção da qualidade  do espaço urbano.
 O documentário fotográfico, maneira criativa,  destaca  implicações a serem consideradas para as políticas de valorização e intervenção no meio ambiente urbano, tais quais: planejamento coadunado com a trajetória histórica da ocupação territorial no Vale do Aço;  políticas de patrimônio cultural  como condicionantes nas etapas de   elaboração de planos  e projetos urbanos de uso e ocupação do solo; o   uso da imagem da cidade como  instrumento de planejamento  que reflete a verdadeira problemática urbana,  um  verdadeiro reflexo que permite, sem omissões, a leitura da cidade; captação de recursos para manutenção e desenvolvimento das identidades formadoras do traço cultural do vale do aço enquanto região metropolitana, entre outros possíveis apontamentos a serem levantados, partindo- se apenas desta obra como referência.
Concluindo, este seria um caminho a ser percorrido no sentido do estabelecimento das condições de cidades competentes, criativas, sustentáveis e dignas, que é o que nós, cidadãos, esperamos para viver.



[1] Disponível em:http://pt.wikipedia.org/wiki/Paisagem. Acesso em19/12/2014.
 [3]  Disponível em:  IPHAN - Portaria n.º 127, de 30 de abril de 2009 – Estabelece a chancela da Paisagem Cultural Brasileira. Acesso em: 19/12/2014.
[4] Disponível em:  : http://saojoaodelreitransparente.com.br/events/view/2700. Acesso em: 19/12/2014.